quinta-feira, 12 de março de 2009

Horários da Peça


Sexta 20/3 - 0 Horas
Sábado 21/3 - 18 Horas
Domingo 22/3 - 21 Horas
Terça 24/3 - 21 Horas
Sexta 27/3 - 0 Horas
Sábado 28/3 - 18 Horas
Domingo 29/3 - 21 Horas

Teatro Experimental da UFPR (Campus da Santos Andrade)

Mostra Novos Repertórios

sábado, 29 de novembro de 2008

As ruas de Bagdá ou Aranha marrom não usa Roberto Carlos


As ruas de Bagdá ou Aranha marrom não usa Roberto Carlos é um espetáculo sobre as várias visões que podemos ter sobre uma mesma situação, revelando um jogo ora divertido ora reflexivo. Poético e não realista, o público caminhará sob o fluxo do pensamento, como insights, flashes que se cruzam e permeiam uma só questão: O que vemos é realidade ou ilusão?
É um jogo interessante, parte cômico, parte trágico, que apresenta na metáfora da aranha, com até 08 olhos, as várias possibilidades de visões que temos e oferecemos o tempo inteiro. Parte-se do pressuposto de que a realidade é algo tão pessoal e único como as impressões digitais.
O texto surgiu, como um meio da ACRUEL Companhia de Teatro falar do cotidiano, de nossos questionamentos e visões sobre ele. Discussões tomadas de forma múltipla, pela própria subjetividade de cada componente do grupo, que se coloca e vê de forma diferente o mundo, resulta numa dramaturgia criada colaborativamente - através de source-work, improvisações e escrita automática.
O espetáculo já teve uma pré-estréia na 4ª Mostra Cena Breve em Curitiba, onde teve uma ótima recepção da crítica.

Crítica: Mistura e Manda por Valmir Santos


As colagens com imagens projetadas ao fundo em diálogo com o texto que tem as manhas de antagonizar “maçaroca” e “muriçoca” sem perder a elegância remeteram de chofre à escrita icônica de Valêncio Xavier no seu excepcional Mez da grippe, dos anos 80, livro que inclusive ganhou versão para o palco em julho passado, no Novelas Curitibanas, pela Pausa Companhia e direção do convidado Moacir Chaves, do Rio.
Deixou boa impressão, para não perder o trocadilho, a participação da recém-nascida e curitibana ACRUEL Companhia de Teatro com a cena Aranha marrom não usa Roberto Carlos. As atrizes-criadoras Emanuelle Sotoski, Lígia Oliveira e Rubia Romani poderiam sucumbir à muleta da projeção de imagem. A sinopse até sugere uma poluição visual com o bombardeio de informações na ordem do dia, mas a grata surpresa é que o trabalho transcendeu à própria teia que vem tecendo.
“As palavras começa a me faltar. Precisamos nos comunicar por pensamentos. Me ouçam”, diz uma das intérpretes em certa passagem, pelo menos é o que deu para anotar. A dramaturgia não é um tobogã para deslizar os lugares-comuns. Antes, faz destes uma angústia existencial interdita, sufocada pelo tudo para ontem na era das tecnologias digitais.
A correção dos figurinos e gestual alinhados de aeromoça, na abertura, carregando suas malas cheias de cebolas picotadas em seguida, causam estranhamento que abrem os códigos da fragmentação narrativa. A apropriação do kitsch televisivo, dos clichês da sedução publicitária, adicionam critica à irreverência explícita. Que essa dramaturgia colaborativa estilhaçada, sem ser inorgânica, consiga ser mantida na constituição da peça propriamente dita. Há que ser cruel sem perder a brochura. Ah, sim, e encontrar a projeção de voz que falta quando a moça fala do fundo do palco e nos sopra fiapos.

Valmir Santos cobriu teatro para a Folha de São Paulo (1998 - 2008). Colabora com críticas para a Revista Bravo!. Integra o júri paulista para o Prêmio Shell de Teatro.

domingo, 9 de novembro de 2008

Sobre Velhas e Novas Fotos - Da teia de Bagdá a Mosca na Sopa






Aranha não é pirata, aranha não faz guerra. Nem tudo é o que seus olham vêem. Aranha não é pirata, aranha não faz guerra. Emaranhados de fios que deveriam levar luz acabam levando escuridão, aranha não faz pirataria, aranha não faz guerra. Quem sofre com a escuridão provocada pela longa teia elétrica não é vilão, nem mesmo é pirata, mas é vitima, é triste, é mosca presa na teia da guerra. Pirata rouba ladrão, pirata rouba mocinho, pirata rouba de tudo, seja no mar ou seja na terra. Pirata também faz teia, mas pirata não é aranha, pirata não tem oito olhos , não tem pernas e nem come mosca. Já a mosca é secundária nessa teia falsificada, mas ela também tem olhos, milhões de olhos divididos em dois, mas a mosca não é aranha, nem mesmo é pirata, a mosca é apenas vítima da guerra. Olhando com outros olhos aquela teia colossal, não é coisa de pirata, nem é coisa de aranha, mas é o fardo da guerra. Curioso mesmo, é que a teia, que pode ser da aranha, do pirata ou da guerra, pega sempre a mesma mosca, com milhões de olhos representados em dois e milhares de cidades representadas em uma. Como fazer para aliviar o sofrimento do mísero inseto? Talvez torcer para que o mundo pare de se preocupar com a teia, e comece a se preocupar com a mosca, seja ela vítima da aranha, do pirata ou da guerra. Alguém pode, por favor, acender a luz?

Fale com a minha mão!

- Então mão direita? Nada como um dia após o outro. Justo você que sempre me criticava de ser tão controladora, não é que comete o mesmo mal?
- Não me amole, de todos os meus problemas o que menos me preocupa é o seu sarcasmo.
- Hahaha. Que bom que o mundo gira. Tome cuidada mão direita, para resolver os seus graves problemas está utilizando os meus princípios, outrora tão criticados pela sua intelectualidade e que após esta turbulência pode lhe provocar uma grande dor de cabeça. Algo como uma ressaca mental.
- Você fala como se nunca tivesse errado. Você só sabe de teoria e no fundo inveja minha praticidade que fez o tal mundo girar.
- Isso são coisas dos seus olhos. Seus mesmos olhos que me acusava de pedófilo, de drogado, de robô.
- Pois, ora, mão esquerda, se seu mundo fosse perfeito não estaria sentada em ruínas, torcendo para que meu destino seja igual ao seu.
- No meu ponto de vista o seu mundo já era, enquanto meu mundo nunca foi, mas será, no futuro do indicativo.
- Pois bem, por isso o homem, como ser humano, primata, tem dois olhos. Um olho para cada mão.
- No meu olho você está patética neste disfarce de mão esquerda.
- No meu olho, o seu fracasso foi o melhor que poderia ocorrer à humanidade. Como queria que prosseguisse a complexidade das relações sob a égide da sua batuta?
- Eu nunca fracassei, se quer estive próximo das relações ideais. Fui envenenado antes pelo seu veneno negro, que até hoje atinge os meus restos mortais.
- É fácil me culpar. Porque não culpa a mente humana pelo seu fracasso.
- Já disse que nunca fracassei.
- Isso depende do olho. Cada mão com o seu olho.
- Pois bem, e é melhor assim, olho direito para mão direita, olho esquerdo para a mão esquerda. Assim como a aranha que tem oito olhos para as suas oito patas, o ser humano tem dois olhos para suas duas mãos.
- Lá vem você querendo controlar tudo de novo. Quem disse que o ser humano tem apenas dois olhos.
- O do século XX tinha.
- E o homem do século XXI?
- Esse talvez só tenha um olho...o seu.
- E tomara que continue assim. Mundo moderno benzinho.
- Quem é você pra me falar de modernidade?
- Sou a mão do século XXI
- Depois desse seu descontrole de tentar controlar, tome cuidado. Rompimentos de paradigmas geram marcas que nem mesmo o seu dinheiro pode curar. Surgirão outras mãos, ainda neste século, e quem sabe até eu retorne?
- Então volte como outro olho, esse seu já ta gasto.
- Mas me resta alguma coisa para ver o seu declínio.
- Tá gasto e burro. Realmente crê que este é o fim? Já passei por coisas piores.
- Mas nunca foi controladora.
- Já fui, só adicionei o Neo e fingi que não era comigo.
- E o que vai fazer agora? Colocar o fim?
- Isto é relativo. Talvez eu ponha um acento, mas não se preocupe, o meu mundo se auto-sustenta.
- Isso são coisas dos seus olhos Torcerei para que neste século, as mãos vindouras não cometam nossos erros.
- É...talvez sim, talvez não. Quem sabe no seu olho, talvez um dia, você entenda que eu nunca estive tão errada?
- Mas precisava causar tanto sofrimento?
- Faço a mesma pergunta pra você...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Tudo está de cabeça para baixo

Os esquimós: sabe como eles imaginam o Inferno? Gelado.
E os russos: sabe como eles chamam a Montanha Russa? Montanha Americana.
E os peixes: sabe o que eles fazem quando vêm à tona? Eles prendem a respiração.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Nós vemos o passado. A velocidade da luz não é infinita. Para uma pessoa ver alguma coisa, é necessário que a luz reflita no objeto até chegar aos seus olhos. Mesmo quando vemos objetos que têm luz própria, vemos sua emissão de milésimos de segundos no passado. No caso de estrelas, este segundo se transforma em minutos, horas, dias, meses e anos. Milhares de anos, quando estes objetos são galáxias. Nós sempre vemos o passado, quanto mais longe o objeto, mais tempo demora para a luz atingir o nossos olhos. Se o sol se apagar, viveremos 8 minutos de ignorância, seguindo nossas vidas sem preocupação, até que toda terra se escureça. Sempre que olhamos o sol, olhamos o passado, sendo o mesmo valido quando olhamos a noite. Alias, o sol é o principal motivo para que enxerguemos na faixa visível do espectro. Não é coincidência o máximo de emissão do sol ocorrer nos mesmos comprimentos de onda em que são capazes de detectar os olhos de todos os seres vivos da terra. Mesmo que nenhum bicho tenha visão igual a nenhum bicho, nem mesmo um ser humano tem visão igual a um ser humano. O que temos de parecido é o tempo em que a imagem permanece fixa em nossa retina. Graças a esse fenômeno que existem os filmes, os desenhos e a mágicas, que brincam com a sucessão de movimentos que conseguimos ou não enxergar. Assim como o ventilador girando na mesma freqüência do piscar de uma luz parece parado, uma sucessão de imagens paradas cria um movimento perfeito, se considerando o intervalo em que a imagem fica fixa em nossa retina. O fato, que não vemos só com olhos. O fato, é que vemos sempre o passado, até quando não usamos os olhos. A quem não crê nessa informação, não afobe, não há problema, afinal o tempo é relativo, assim como é relativa a visão de cada olho.